Escuridão, desordem e caos. Essas palavras me dominaram depois do Homem de Terno.
Não durmo ou me alimento, não sei quantos dias se passaram
ou que horas são, o sol ou a lua no céu não importam, sem o controle da minha
mente e corpo me tornei um emissário. Ele me fez matar pessoas, incontáveis
delas, raptar crianças e causar acidentes. O poder que a espada me deu não é
nada comparado ao que sou agora, minha força extrema me permite saltar tão alto
quanto o maior dos prédios, isso também permite me movimentar a uma velocidade
ridícula, a ponto de parecer um vulto para as pessoas comuns.
Após o que pareceu uma eternidade eu fui levado até ele mais
uma vez, essa era a segunda vez, mas agora todos estavam ali, um lugar sem cor,
ao redor diversas crianças observando e no centro o Homem de Terno, ao meu lado
outros como eu. Um garoto com machados que dava alguns tremeliques, um que
possui um liquido escuro escorrendo pelos olhos de sua máscara, um homem de
óculos escondido pelas sombras, um homem extremamente sorridente com somente
sua face iluminada e uma moça de capuz e calça com uma máscara de pano
horrenda. Ficamos ali por anos ou segundos, não há como saber, mas depois disso
ouve um estalo e eu estava de volta, a chuva molhava minha roupa de couro preto
e eu podia sentir novamente, o ar em meus pulmões, os pensamentos em meu
cérebro. Eu podia me controlar novamente, mas tudo estava diferente, o modo em
que meus sentidos estão dispostos agora é melhor, meu instinto conversa comigo
e eu tenho uma ordem, todos temos. O Homem de Terno não falou nada, mas ainda assim
nos deixou instruções, eu deveria encontrar um certo alguém e convencê-lo a
ajudar.
Tentei andar pelas ruas, mas minha euforia tomou conta, eu
saltei e logo estava no maior prédio da cidade, de algum jeito eu posso ver
toda a cidade daqui, posso ouvir cada pessoa falando, sentir cada um deles.
Esse foi o preço da liberdade? Poder absoluto sobre os mais fracos? Inspiro e
sugo o máximo de ar que meus pulmões conseguem e depois solto lentamente, eu
havia o encontrado, andando pela parte mais pacifica da cidade. Ao olhar
naquela direção posso o ver saindo de uma casa, todos lá dentro estão mortos,
com um salto e alguns impulsos nos telhados acabo chegando até ele, o homem
para. Está de moletom preto e calças pretas, sua máscara ainda é a mesma, mas
ele destruiu a parte da testa onde a marca estava. Ao me perceber ele parou,
não fez mais qualquer barulho, parecia até mesmo morto. Eu saltei e parei a exatamente
4 metros de distância.
- Um garoto com máscara de corvo e roupas de couro, estamos
na época da peste?
Ele levanta seu rosto e eu percebo finalmente que já não sou
mais o mesmo, o que ele havia falado era verdade, estou vestindo uma roupa de
couro que cobre todo o corpo e essa máscara, essa mascara não, isso não é uma máscara,
se tornou algo em mim, uma extensão de meu rosto.
- O Homem de Terno deseja te ver...
Depois de tanto tempo com pensamentos distintos é a primeira
vez que ouço minha voz depois de tudo, não mudou muito.
- Há... Eu já me afastei dele, não preciso mais daquele
imbecil.
A ofensa desse homem ao meu mestre me enfurece, minha mente
começa a divagar e pensar em como posso tortura-lo, meu mestre? Entendo, então
de fato ainda não tenho completa liberdade sobre minhas ações, quando mais novo
nunca gostei de receber ordens nem mesmo de meu pai e agora aqui estou eu,
chamando aquilo de mestre em meus próprios pensamentos.
- Você deve voltar e ajudar.
Eu estendo minha mão que ele faz questão de ignorar.
- Dever... eu sou aquele que enfrentou a morte, que
esfaqueou a vida, meu único dever é matar!
Ele avança contra mim a uma velocidade ridiculamente
absurda, para a minha frente e dos bolsos onde estavam suas mãos retira uma
faca e me acerta, mas eu também sou forte, todo esse tempo e ninguém foi capaz
de me tocar, esperei até aqui para isso, eu explodi em penas negras e no
instante seguinte estava mais ao lado no telhado de uma casa, esse tal
sobrenatural me deu poderes assim e eu aceitei em troca da liberdade.
- Você saberá onde encontra-lo Profeta...
- Eu não vou maldito!
Ele se vira e arremessa a faca em minha direção enquanto
mais uma vez avança com velocidade, sei que a faca se quer passaria por minha
roupa, mas ainda assim estendo minha mão para segura-la, ele salta sobre mim e
tenta me acertar golpes inúteis, acabo por voltar a rua, ele para ofegante,
seus olhos mostravam fúria e sua aura maligna começa a surgir.
- Você tem seguidores agora.
Enquanto falo solto a faca que vai ao chão.
- 5 grandes profetas e sua querida enfermeira.
Eu posso ouvir cada parte de seu corpo sendo preparada.
- A cada dia em que você não aparecer para o Homem de Terno
vou matar um de seus profetas.
Tudo se vai com a surpresa dele, um homem com máscara de
touro, sobretudo vermelho e uma faca de açougueiro surge em minhas costas e
novamente o que eu estava esperando a tanto tempo, fecho minha mão direita e da
escuridão noturna penas afiadas e negras saem e perfuram cada ponto vital
daquele ser, ele cai sem vida e seu sangue começa a escorrer rapidamente por
cada corte que causei.
- Começando agora, 5 dias até todos os seus Profetas estarem
caídos como esse.
Me viro para ver a cena, anteriormente isso teria me afetado, mas agora, nada. O Profeta Bizarro caiu e tudo o que senti foi nada.